"Ser marxista é, antes de mais nada, ser anticapitalista, ou seja, lutar pela construção de uma sociedade sem classes, que suprima a exploração do homem pelo homem e a propriedade privada dos grandes meios de produção, criando condições para que as relações entre os homens sejam fundadas na solidariedade e não no egoísmo do mercado. Claro, ser marxista não é repetir acriticamente tudo o que Marx disse. Marx morreu há cerca de 120 anos e muita coisa ocorreu desde então. Mas, sem o método que ele nos legou, é impossível compreender o que ocorre no mundo. Ele nos disse que o capital estava criando um mercado mundial, fonte de crises e iniqüidades, e nunca isso foi tão verdadeiro quanto no capitalismo globalizado de hoje. Falou também em fetichismo da mercadoria, na conversão do mercado num ente fantasmagórico que oculta as relações humanas, e nunca isso se manifestou tão intensamente quanto em nossos dias, quando lemos na imprensa barbaridades do tipo 'o mercado ficou nervoso'." (Carlos Nelson Coutinho)

sábado, 21 de abril de 2012

A CRITICA DE LÊNIN A STALIN



Em sua carta ao XIII Congresso do Partido Comunista da URSS, que ficou conhecida como seu "testamento político", escrita em dezembro de 1922, o revolucionário marxista russo Vladimir Ilitch Lênin criticou o secretário geral do partido, o georgiano Josef Stalin, inclusive solicitando sua substituição do cargo de secretário geral do Partido Comunista da URSS. Nessa mesma carta, Lênin também criticou Trotsky, entretanto muitos parecem desconhecer isso e usam o conteudo dessa carta para demonstrar a oposição de Lênin com relação a Stalin, quando na verdade essa carta demonstra que ele também se opunha as políticas autoritárias de Trotsky.

Vejamos o que dizia Lênin nessa carta:


"Me refiro à estabilidade como garantia contra a ruptura em um futuro próximo, e tenho a proposta de colocar aqui várias considerações de índole puramente pessoal. Creio que o fundamental no problema da estabilidade, desde este ponto de vista, são tais membros do CC como Stálin e Trotsky. As relações entre eles, a meu modo de ver, encerram mais da metade do perigo desta divisão que se poderia evitar, e a cujo objetivo deveria servir entre outras coisas, segundo meu critério, a ampliação do CC a 50 ou até 100 membros.

O camarada Stálin, tendo chegado ao Secretariado Geral, tem concentrado em suas mãos um poder enorme, e não estou seguro que sempre irá utilizá-lo com suficiente prudência. Por outro lado, o camarada Trotsky, segundo demonstra sua luta contra o CC em razão do problema do Comissariado do Povo de Vias de Comunicação, não se distingue apenas por sua grande capacidade. Pessoalmente, embora seja o homem mais capaz do atual CC, está demasiado ensoberbecido e atraído pelo aspecto puramente administrativo dos assuntos(1). Estas características de dois destacados dirigentes do atual CC podem levar sem querer-lo à ruptura, e se nosso Partido não toma medidas para impedir-lo, a divisão pode vir sem que se espere.

Não seguirei caracterizando aos demais membros do CC por suas características pessoais. Recordarei apenas que o episódio de Zinoviev e Kamenev em Outubro(2) não é, naturalmente, uma casualidade, e que se disto não se pode culpar pessoalmente, tão pouco a Trotsky pelo seu não bolchevismo.(3) (...)

Stálin é brusco demais, e este defeito, plenamente tolerável em nosso meio e entre nós, os comunistas, se coloca intolerável no cargo de Secretário Geral. Por isso proponho aos camaradas que pensem a forma de passar Stálin a outro posto e nomear a este cargo outro homem que se diferencie do camarada Stálin em todos os demais aspectos apenas por uma vantagem a saber: que seja mais tolerante, mais leal, mais correto e mais atento com os camaradas, menos caprichoso, etc. Esta circunstância pode parecer fútil tolice. Porém eu creio que, desde o ponto de vista de prevenir a divisão e desde o ponto de vista do que escrevi anteriormente sobre as relações entre Stálin e Trotsky, não é uma tolice, ou se trata de uma tolice que pode adquirir importância decisiva."

(Carta de Lênin ao XIII Congresso do Partido Comunista da URSS)



(1) Lênin, no seu Testamento Político, fala de Trotsky como "o homem mais capaz do presente Comitê Central", mas deplora suas tendências autoritárias (nas palavras de Lênin, "sua tendência a abordar as questões apenas pelo lado administrativo").

(2) Zinoviev e Kamenev colocaram-se contra a tentativa de insurreição que resultaria na Revolução de Outubro de 1917 nas instâncias do Partido Bolchevique.

(3) Até 1917 Trotsky não ingressara nas fileiras do Partido Bolchevique, e conservava profundas divergências com os mesmos.



O stalinismo foi a mais grave degeneração que o marxismo sofreu, e essa carta demonstra que Lênin havia percebido o caráter autoritário e desleal da personalidade de Stalin, alertando o partido quanto a isso, solicitando inclusive a substituição de Stalin do principal cargo do partido, por outra pessoa que fosse "mais tolerante, mais leal, mais correto e mais atento com os camaradas... ". Entretanto, o trotskismo também é uma degeneração, basta observar o sectarismo e o extremismo inconsequente dos trotskistas. E lógico, recordar que Trotsky defendia as mesmas políticas autoritárias que Stalin acabou promovendo a partir de 1928, como a militarização do trabalho e a estatização dos sindicatos.

Por isso afirmo que o trotskismo não é alternativa para o stalinismo, mas sim o outro lado da mesma moeda. Os marxistas que defendem a luta do proletariado para derrubar o capitalismo e construir uma nova sociedade, onde não mais exista a exploração do homem pelo homem, devem romper com o stalinismo e também com o trotskismo, buscando resgatar o melhor do pensamento marxista, segundo a realidade da luta de classes no século XXI.

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